05 novembro 2007

Você pode me ouvir da sua nuvem?

( Hoje, escrevi esse poeminha/histórinha... um tanto infantil... mas é bem do meu jeito... )
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Ah, eu só queria que Pedro me olhasse como quando ele examina uma tesoura cega, mas ele vive entretido com aquele amolador de alicates. Eu escrevi um poema pra ele com tanta ternura: ele botou ao lado da tesoura afiada antes de ler, e o vento levou o poema com pena do coitado. Eu fiquei observando de longe, ele nem percebeu que minhas palavras iam embora. No dia seguinte, levei um pedaço grande de bolo... ele deu a primeira mordida sem me olhar e disse obrigado com a boca cheia. Pelo que me ensinaram, ele foi mal-educado. Aí, na aula de pintura, tentei derramar cuidadosamente uma imagem, o tema era livre. Quis pintar a voz do Pedro. Tive que fechar os olhos. Me lambuzei toda de tinta, parecia ele fazendo uma carícia em mim. Pendurei na parede, tava meio confuso, mas tão colorido. (A voz do Pedro é mais bonita que os olhos, esses vejo pouco, já que quase ele não me olha, mas a outra é limpa, parecendo um filete de sol atravessando uma música). Aí fiz questão de perder as minhas chaves pro Pedro mudar minha fechadura. Tivemos que trocar tudo, minha mãe já estava desconfiada... Nem ligo, ele é tão lindo e, para mim, é o meu tudo. Mas o Pedro fez todo o serviço apressado, nem aceitou o suco........ lembrei do quadro, queria dar de presente, e o elevador já tinha levado o Pedro embora, que nem o vento fez com meu poema.
Gosto tanto do Pedro que não me olha nunca, que um dia na escola, um menino deixou um bilhete dentro do meu caderno. Nunca tinha reparado desse menino gostando de mim em silêncio, eu pareço uma tesoura cega... Depois eu percebi, que cego mesmo é o Pedro.
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Minha poesia me traz consolo, inquietação, devastação e paz.
Ela nunca me diz com antecedência se será de resgate ou de rebentação.
Ela nunca me diz se vai me amparar no auge das minhas urgências.
Mas quando minhas palavras se apaixonam por alguém,
elas dançam no corpo dos dedos e se revelam entre tantos segredos
pra sanar o meu caos interno e chegar no eterno cais.
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E como não tenho ninguém nem para me ouvir... eu escrevo...