04 novembro 2007

Duas versões... a dele... e a minha...


A Versão DELE:
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Um dia iguar a outro e eu fui trabaia
Mar eu sabia que justo naquele dia meu distino ia muda
Eu usei meu telefone pra modi telefona
Eu falei cuma moça que paricia que tava acantá
Tinha a voiz tão doce que paricia passarim
Eu num tive outra escoia e tive que elogiá
Mais qui muié era aquela pra quem eu dinovo quiria liga
Ela tinha voiz de anjo uma coisa celestia
Eu fiquei tão abibado i dinovo quis li fala
Então neste dia eu falei pra voiz dela grava
E de argum jeito mi envia
Eu pidia coisa pouca era só ela falando mansinho
BOM DIA pra me alegra
Iguar passarinho que canta di manhazinha pra mode deu acorda
Ela falo bem di jeitinho que isso i mais coisinha
Ela podia pra mim fala
Eu fiquei tão emocionado com aquela voiz di minina que nem
Pensei direito em tudo que ia da
I falei cum ela mais veis até a gente si apaixona
Eu num sabia que ali meu distino ia sela
Aquela moça de la e eu do lado de ca
Eu sabia que ela só pudia se ispecia
Ela tinha tanta coisa que eu quiria inté ta la
Pra vê se era verdade que aquilo num era sonho
E ai ela mando uma fotografia
Pra eu sabe quela ixistia
I era muito bonita de si oia
Mais meu coração já tava todo bobão e por ela ele foi se apaixona
Mais não foi triste não, aquele dia eu discubri que eu ainda sei ama
Essa minina hoje mora dentro do meu oia
As veiz eu penso cume queu vo faze pra mode da gente se vê
Assim um na cara do outro
pro fogo do nosso corpo si encontra
Eu sei que ta difici, nóis sabemo o porque afina
São vidas tão diferentes de dois ser tão igua
Ela la longe, e eu fico aqui com este dia a sonha
Mais ele chega inda
E a gente vai cunsuma esta força que tem nosso amor
Pra tudu munda sabe que a gente sabe si ama
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A Versão MINHA:
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( Segue abaixo, a minha versão, "imaginária"... claro... pois oque descreverei não ocorreu, como foi na versão dele... Mas tentei expor um pouco de como esse moço me daria trabalho se fosse meu... Também, oque escrevi não é bela como foi a dele, mas demorei um tempão pra fazer ela, mas tá ai... COM TODO MEU CARINHO... )
*
Tá vendo aquele moço ali, dona? É meu homem. Ninguém tem mais intimidade com o mato que ele. Ninguém tem mais intimidade com o mar que ele. Ninguém passeia em qualquer canto solitário dessa natureza de meu Deus com tanta tranquilidade. Nem parece que foi parido de um ventre, parece que brotou da terra. Depois dessas florestas e de todas essas águas que ele conhece, o lugar que ele mais prefere é meu corpo. Nossa querência é das enormes. Ele com essa cara de bravo, ninguém desconfia, que macho mais doce. Mas eu sei que nessa pele queimada de sol tem mar demais e uma fome escondida entre nossas quatro paredes, entre nossas pedras na cachoeira, entre nossas pausas pra comer o peixe que ele pescou e assou. Eu esperando todo o tempo, cuidando da casa, lavando as vasilhas, um pé apoiado no tornozelo, mania que tenho. Ele sempre chega por trás, tentando não fazer barulho, mas eu sinto antes e finjo que não percebi. Ele gosta de achar que tem o dom dessa surpresa.
Esse moço, dona, já me deu trabalho. Foi difícil domar, cavalo doido solto procurando rapariga pra montar sem sela. Eu tive que quase não perdoar a primeira safadeza dele, se engraçando todo com a branquela azeda da rua da frente. Eu me fiz de besta. Mas depois que ele já tava bem lambuzado do assanhamento, larguei dele e mandei embora. Deixei ele chorar, levar tudo quanto é agrado de fruta pra mim, joguei tudo pros cachorros. Joguei fora até as presilhas que eu queria tanto e ele me deu pra eu usar nas festas. Eu tava machucada, dona... tava atarantada demais com o que ele tinha me feito.
Pois aquele moço teve que chorar na minha porta, tava embebedado, é fato, mas parecia menino maltrapilho, cinco dias pelos bares, nem na casa do amigo ele não voltava mais. Banho só de mar. E a mesma roupa encardida das andanças. Rondando minha casa, chamando meu nome, dizendo palavras de amor, todo arrependido. Deixei ele sofrer mais de duas luas inteiras, porque eu gostava dele... fazer o que né dona... mas meu coração, quando ouvia aquele choramingar arrependido na minha janela, sentia era uma sapituca de raiva que eu me contorcia toda pra não jogar a água fervida do banho todinha nele. Quase costurei o nome da azeda que ele se engraçou na boca de um sapo, mas depois tive um esclarecimento na minha razão: que mal não se faz e nem se deseja pra ninguém, porque volta em dobro, já me dizia meu avô, Deus o tenha.
Foi que um dia, no forró lá no galpão de palha de seu Benevides, eu tava toda enfeitada na minha sede de vingança de fazer o mesmo, na frente dele, da cidade inteira. Pra magoar bem pisado aquele coração sem jeito. E teve uma hora, tocou aquela música de quando a gente namorou pela primeira vez. Aí me alembrei dele cantando pra mim, cara de menino levado, falando que eu era a morena mais bonita da festa, eu toda acreditada. Mas a lábia dele já era famosa, dona. A mulherada toda se enfileirava pra ser a próxima das aventuras dele. E foi aí que eu ia aproveitar pra dançar com aquele tal de João, da loja de ferramentas, que já me queria desde muito tempo. E de repente... vi meu homem lá... pensei que ia puxar briga, mas não: ele me olhou com uma tristeza, uma tristeza tão escura. Nunca vi um olhar tão adoecido, tão lamentoso. Parecendo que o mar inteiro sangrava. Só dele imaginar que eu ia me abraçar com o João naquela música que era tão nossa, dava pra ver o peito dele se arrebentando por dentro naquela olhada firme que ele me deu. Tive pena, não, dona... Tive foi o meu amor voltando... eu querendo cuidar pra ele nunca mais me olhar assim. Daquela dor que eu vi nele, nem gosto de alembrar.
Pois esse homem é tão meu agora, dona, que até enjoa, às vezes. Faz de tudo e mais um pouco pra eu não deixar ele de jeito nenhum. Eu já tive só mais um namorado, que foi antes dele. Um violeiro que me encantou pela voz, quando a gente acendia as fogueiras, ele era o centro das atenções, cantando as canções sertanejas que eu mais gostava. Mas me entregar mesmo, de não resistir a essas fomes da carne, foi só com meu homem. Que até hoje ele ciúma desse meu primeiro. Disse que vai aprender a tocar violão pro outro não ter qualidade nenhuma que ele não tenha. Eu fico é rindo dessas bestagens. Mas no fundo eu gosto dele achar que nunca vai me conquistar direito, por inteiro, senão a coisa vai ficando abandonada, sabe, dona?
Olha ele vindo aí, todo faceiro... deixa eu me aprumar, dona...Tenho que me ajeitar... Hoje é noite de lua cheia em nossa casa...