22 abril 2008

Toda nudez!


- Há dias em que eu me visto com roupas de SOL.
São dias de sono e de poucas atitudes. Nesses dias o café tem o cheiro forte e o ar é seco e impregnante. Mas as cores são fortes e a luz é muita. Nesses dias de sol os meus olhos dóem e a preguiça me domina sem culpa. Tem sempre um ventilador ligado. Ar instantâneo, mas quente. E tem uma rede. E tem um livro. E tem banhos compridos e corpo despido. Alma despida. Nesses dias tudo é quente. E dentro de mim tudo é quente também.

- Há dias em que eu me visto com roupas da NOITE.
E há música o tempo todo. Música sensual que provoca o corpo. Nesses dias eu seduzo. Eu me embelezo.. E fico vaidosa como se esperasse por alguém. Nos dias de NOITE eu mostro tudo o que há em mim, todas as minhas fases e os meus fluidos. E me expando. E me recolho. E te aperto em mim. E me liberto e escorro em ti. E me perfumo. Nesses dias eu canto e a minha voz é imensa e me redime. E eu me curo completamente.

- Há dias em que eu me visto com roupas de GULA.
Nesses dias eu devoro tudo! Tudo é comestível. As pessoas que eu vejo, as idéias, os desejos, a rua, os dedos. Nesse dia eu me sinto satisfeita. Cheia de conteúdo e conhecimento das coisas. Eu sinto fome. Eu como. Eu saboreio. E guardo na memória um bom suprimento de paladares para que não me falte fome nos dias de caverna, de urso hibernando. Nessas dias eu amo, eu ardo, eu provo um pouco de tudo o que há nas coisas todas e bebo com prazer na taça da vida.

- Há dias em que me visto com as roupas do TEMPO.
Nesses dias eu apenas observo, soberana, as coisas que me cercam. Vejo de cima! Estou no alto e de lá tudo é nítido e é tudo resposta. Um saber-de-tudo me é concedido. E eu então me reconheço imortal. E me vejo coragem e salto diante do abismo.

- Há dias em que me visto com roupas do FIM.
Essa estrada misteriosa que ninguém conhece ou sabe onde vai dar. Nesses dias eu escrevo. Porque é o único jeito de não acabar. Essa roupa eu não gosto de vestir. Ela é determinada pelo tic-tac constante do universo. Com essa roupa eu me visto de luta e rebelde que sou, eu espero. Nesses dias de FIM eu recomeço tudo o que posso e quero. E aprendo a mudar pra sobreviver.

- Há dias em que me DISPO de todas as roupas possíveis.
E minha alma nua diante de ti finalmente se revela como realmente é: Completa!
Uma soma de todas as coisas. SOL, NOITE, GULA, TEMPO e FIM!

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Sempre faço o que não consigo fazer para aprender o que não sei...