20 setembro 2007

Indefinível

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você escreve dúzias de cartas que ele não responde, você dá flores que ele deixou a seco. E então? Então, ele tem um jeito de sorrir que a deixa imobilizada, o beijo dele é mais viciante do que LSD. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, é meio galinha e não tem a menor vocação para príncipe encantado. Mas quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Mas por que você ama este cara? Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Gosta de viajar, de música, e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu bela + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da minha vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

No amor ninguém pode machucar ninguém; cada um é responsável por aquilo que sente e não podemos culpar o outro por isso... Já me senti ferida quando perdi esse homem por quem sou apaixonada... Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém... Essa é a verdadeira experiência que nos corrói: ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la.