18 agosto 2007

Você, diante de mim


Sou filha caçula. Tive tudo para ser mimada, mas acho que quando nasci meus pais já não queriam filhos. Nem sei se ainda queriam um ao outro, duvido muito. Cresci assim, meio isolada dos irmãos, dos pais, dos colegas da escola. Sentia que não pertencia a lugar algum. Muito nova para os irmãos, muito madura para os colegas de classe.
Quando contei minha história de vida para o primeiro terapeuta que consultei, a resposta veio rápida. Tinha tudo para ter abandonado a vida. "Alguma coisa te salvou, ainda não sei o que foi, mas podemos descobrir, se quiser".
Eu já sabia. Sabia desde o início da minha vida que meus maiores amigos seriam meus escritos. Aqueles pequenos papéis que eu carregava de um lado para o outro. Folhas onde meu sofrimento era expurgado, ou emoções eram descritas.
Contava tudo a elas... como uma forma de contar a alguém. E os papéis me ouviam atentamente, registravam minha dor em tinta de caneta, que até, algumas vezes depois, eu passava para ti em e-mails. Quando ainda eu estava a tratar da minha depressão, meu médico me perguntou se eu já havia sido violentada. Disse que sim. Um dia, uma mulher, em um pico de ódio, disse que lia os e-mails que eu te enviava, um a um, e ainda fez deboche de todos eles. Ouvir isso dela, foi um estupro. Ler o que se passava no mais íntimo de mim era o que de pior poderia me acontecer. Fiquei doente, vomitei dias a fio. Pensar que alguém havia me corrompido tão violentamente me dava náuseas. Por outro lado, tenho orgulho de saber amar, minhas escritas eram uma das formas de demonstrar o quando eu dava valor a uma pessoa, e o quanto de encanto a pessoa tem.
Sou sozinha, passei a escrever mais. Quase não falo.
A escrita é minha redenção e meu vício. Hoje não consigo deixar de escrever, nem que seja por um dia. Se algo me acontece, sou tomada por uma necessidade física de escrever. Uma espécie de náusea que só cessa quando a folha está completa. A sensação se assemelha a um enjôo intenso, desses típicos dos dias em que bebemos demais. Aqueles que só passam quando o mal estar da bebida vai embora. É minha maneira de digerir o que sinto.
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Hoje precisava ver os teus passos marcados no chão, pela chuva que me refresca o rosto e me aquece a alma…Desejo sentir o teu cheiro, outra vez. Fecho os olhos e tento lembrar-me dele…palpito num arrepio de prazer. E assim, de olhos fechados me deixo ficar.
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Quando as portas daquele elevador se abriu, eu vi diante de mim, um homem lindo, lindo e lindo... e eu beijei o homem da minha vida.