24 fevereiro 2008

Um dia...

Um dia, um médico determinará que meu cérebro deixou de funcionar e que basicamente minha vida cessou. Quando isso acontecer, não tentem introduzir vida artificial por meio de uma máquina. Ao invés disso, dêem minha visão ao homem que nunca viu o sol nascer, o rosto de um bebê ou o amor nos olhos de uma mulher como eu. Dêem meu coração... que amou mas não foi amado, a uma pessoa a quem o coração possa encontrar o amor correspondido. Dêem meus rins a uma pessoa que depende de uma máquina para existir, semana a semana. Peguem meu sangue, meus ossos, cada músculo e nervos de meu corpo e encontrem um meio de fazer uma criança paraplégica andar. Peguem minhas células, se necessário, e usem de alguma maneira que um dia um garoto mudo seja capaz de gritar quando seu time marcar um gol, e uma menina surda possa ouvir a chuva batendo na sua janela. Queimem o que sobrou de mim e espalhem as cinzas para o vento ajudar as folhas nascerem. Se realmente quiserem enterrar alguma coisa, que sejam minhas falhas, minhas fraquezas e todos os preconceitos contra meus semelhantes. Dêem meus pecados ao diabo e minha alma, recomendem em suas orações, a Deus. Se quiserem lembrar de mim, façam-no com um ato bondoso, perdoando minhas inúmeras falhas, ou dirijam uma palavra delicada a alguém que precise de vocês. Se vocês fizerem tudo o que estou pedindo, viverei para sempre!

*

...Tira-me a luz dos olhos - continuarei a ver-te

Tapa-me os ouvidos - continuarei a ouvir-te

E, mesmo sem pés, posso caminhar para ti

E, mesmo sem boca, posso chamar por ti.

Arranca-me os braços e tocar-te-ei com o meu coração como se fora com as mãos...

Despedaça-me o coração - e o meu cérebro baterá

E, mesmo que faças do meu cérebro uma fogueira,

Continuarei a trazer-te no meu sangue...