24 setembro 2007

Lindo Pedacinho do Céu


Quando eu era criança, eu achava que poderia atravessar o mar. E andar sobre as águas. Achava que isso tudo era fácil.
Eu pegava fitinhas de santinhos e fazia pedidos, achando que eles se realizariam. Um deles foi pedir para que meu esquilinho não morresse nunca. Mas depois voltei atrás, pedi para a minha vó desfazer o nó, porque eu não queria que ele ficasse eternamente na Terra, pois sofreria muito. Aí então, eu pedi uma bicicleta. Mas eu não sabia andar nela.
E meu esquilinho morreu. Minha vó também. E eu não aprendi a andar de bicicleta.
Me lembro de teimar com meu primo, que o super homem sabia voar de verdade, e que Papai Noel existia.
E não importava quantas pessoas dissessem que eu estava errada. Eu vivia no meu mundo.
Depois, as pessoas vieram com provas, de que o Papai Noel, fazia compras na casa e dividia para pagar em várias prestações, e que o super homem ficou tetraplégico. Veio a prova de que ninguém atravessa o mar a nado, e que ninguém que eu conhecia tinha conseguido andar sobre as águas. Que a Fadinha do dente dormiu um pouco mais aquela noite, porque estava de porre e esqueceu de botar o dinheiro debaixo do travesseiro.
Aí, a gente cresce e fica debochando da menininha que acredita em Papai Noel, para esconder a nossa frustração por ele não existir.
E hoje em dia, não é nada diferente. Todas as coisas que eu falo e acredito, as pessoas zombam e dizem que não existem.
E eu, como uma criança, tento insistir sem provas de que existe pessoas que são como alma gêmeas, e que embora eu não tive oportunidade de mostrar ele para todas as pessoas que conheço, ele me teve por inteiro, e que ele é do jeito que eu idealizava, e é lindo, muito lindo, e que um dia, vou reencontra-lo novamente.
E ninguém, ninguém acredita.
E eu ainda estou no meu mundo. Embora ninguém mais acredite nele. E tenho muito, muito medo de que alguém me mostre com provas, de que nunca mais vou reencontra-lo. Aí, eu criança, rezo para Deus, que não deixe ninguém me provar nada, que me deixe acreditar que um dia vou ver de novo o meu Lindo Pedacinho do Céu.
Porque se alguém me provar o contrário, e eu acreditar, eu vou perder o pouco que me resta da vontade de viver....